Louveirando: Brotos da Chuva
Coluna de João Batista

Brotos da Chuva (imagem: João Batista)
TRILHA SONORA: RECONVEXO / MARIA BETHÂNIA
Brotos da Chuva
por João Batista
Foi numa dessas minhas andanças, que observei esta flor, que a meu juízo, estava ali solitária, assim como eu à beira da represa, muito cheia agora, por causa das chuvas janeirianas. Sim, num primeiro momento, penso que a maioria das pessoas, pensaria sobre mim, o que eu pensei sobre a flor. “Que pessoa solitária esta!” Eu, assim como a flor, estávamos só, mas não o “só” de solidão, e sim o “só” de solitário, ali sozinhos, eu e a flor.
Analisei a minha vida ali, justamente naquele momento vivido do agora, repito: do agora mesmo. Eu estava ali por livre vontade, coisa que faço muito, se não tanto quanto eu gostaria, mas sim dentro das minhas possibilidades, e, as vezes, ouso dizer, um grauzinho acima das minhas possibilidades. Mas e a flor? Outra vez, a meu juízo, a flor não teve outra opção, pois nasceu ali, viveria ali, e ali morreria, como, não gosto de usar esta expressão: “deve ser.”
Parei, conversei com a flor, pedi licença e a fotografei em vários ângulos, ela, pelo que me pareceu, consentiu balançando-se no pouco espaço que era permitido a ela, se mover. Ventava um pouco, esclareço aqui. Uma pessoa, bonita pessoa, de roupa amarela, apropriada para corrida, parou ao meu lado e disse: “linda flor, esta, mas mesmo sendo linda, neste dia chuvoso, poucas pessoas param para admirá-la, assim como fizemos.”
Concordei, nos falamos mais um pouco sobre a represa e a chuva, sobre correr ou caminhar, e os efeitos dos tais procedimentos. Quando o silêncio se fez mais presente, sorrimos e nos despedimos, e a pessoa continuou o seu trotar, enquanto eu fiquei por mais alguns minutos, conversando com a flor. Ela, com certeza, estava rindo de nós, pelos motivos dela, lógico. De repente, eu também me pus a caminhar, em passos vagarosos, firmes, mas vagarosos observando tudo ao meu redor. Melhor dizendo, apreciando tudo ao meu redor.
Pensei então com os meus sentidos, em como tudo pode ser bonito mesmo num dia chuvoso. Que depende muito mais do nosso estado de espírito, enxergar as coisas belas, do que propriamente as coisas serem ou estarem belas. Aqui falo do geral, e não da situação por mim vivida neste exato momento. Tudo me pareceu belo, até o carro meio sujo, que prometi levar para lavar esta semana, mas não o fiz. Mais uma vez me senti agradecido, não ao agradecimento piegas e repetitivo, caçado na internet, ou na mente dos caretas, mas sim, o vindo do cérebro e do coração, partes fixas do meu físico.
Caminhei a volta toda, uns 1.512 metros, rindo de mim, com a cara feliz, com um ou outro bom dia aos demais, poucos, transeuntes. Segui assim e sei, que a flor, não estará ali a semana que vem, quando voltarei. Nunca direi “ou ela ou eu”, pois Deus pode ouvir e preferir que a flor…

Brasileiro de Louveira, pedagogo, membro da ALLA – Academia Louveirense de Letras e Artes, colunista e criador da expressão “louveirando”; um bobo por natureza.
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