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Louveirando: Quem não tem colírio bate a cara contra o muro

Coluna de João Batista

Louveirando: As Montanhas de Todos Nós (DUPLICAR)

(imagem: João Batista)

Quem não tem colírio bate a cara contra o muro

por João Batista

“Muro? Que muro? Os home foi lá com as maquina e o muro mandô derruba!”

Me socorram Raul Seixas e Adoniran Barbosa, me deem uma ideia do que escrever sobre este muro que fez e faz parte da minha vida, e da vida de muitos moradores de Louveira, especificamente do Quebra, o nosso bairro Santo Antonio. O muro que circundava a Fábrica de Louças Nerina, mais precisamente no que tange à Rua Ricieri Chiquetto, deixou de existir de uma hora para a outra. E eu fiquei triste por muitos motivos, acentuado pelo fato de eu não poder filmar a demolição.

Acredito que alguém tenha ao menos fotografado, quero as fotos deste registro histórico. O muro feito de tijolos antigos de olaria era uma marca bem ali ao longo da quadra em linha reta, uma beleza. Aqui apelo ao Caetano Veloso que escreveu e cantou “da força da grana que ergue e destrói coisas belas…” Repito: foi um choque para mim chegar à noitinha no Quebra e ver que o muro não estava mais lá. Até meu carro, acredito eu, sentiu o baque.  As lembranças afloram e eu me lembro que tive a esperança de que o muro seria mantido pelo novo empreendimento, mais um supermercado.

Sabe esses supermercados modernos que não é bem um supermercado, e sim um aglomerado de lojas e afins, que de novidade mesmo, nunca trazem nada. Especialmente no quesito preço. Eu sei, e inocente não sou de pensar que quando um novo empreendimento surge num local, o objetivo maior é servir a população. A mim me fala aquela vozinha que costuma comprar, e que segundo ela, tudo está muito caro, inclusive em uma cidade vizinha da nossa, com um empreendimento alcunhado com o mesmo nome. Promessas demais, entregas de menos, como tem sido até então. Sou testemunha!

Toda novidade causa um burburinho, que com o passar o tempo, pouco tempo, é atenuado pela mesmice (desculpe professora Neide de Português – que detestava a palavra mesmice), mas neste texto, esta palavra cabe muito bem. Somos experientes e já vivemos muito tempo com coisas parecidas, o que não exclui totalmente a esperança de que um dia ou uma noite, as coisas mudem para melhor, e os valores de todas as coisas, sejam ajustados com justiça, método e hombridade. Precisamos sim manter o que seja histórico. Precisamos sim ter ideias próprias e conhecer a história; ah! Chico Buarque: “tijolo com tijolo num desenho lógico.”

Daqui a algum tempo os nossos olhos acatarão as mensagens do nosso cérebro e tudo parecerá normal; entendendo que esta calçada sempre foi deste jeito feio e que o outro jeito, que não era tão bonito, mas era histórico, nunca existiu. Tristezas passam, muros caem, pessoas morrem, alegrias surgem, muros são erguidos e pessoas nascem, mas a essência do que existiu e foi bom, permanece como energia mesmo, uma energia boa, que eu, com certeza, sentirei, todas as vezes que por esta calçada passar. Progresso também se consegue restaurando nossos símbolos.

Louveirando: Tijolo com Tijolo Se Paga
O muro de tijolos antigos já não existe mais (imagem: João Batista)

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