Home » Opinião e Crônicas » Se não for você, quem vai combater a violência contra os idosos?

Se não for você, quem vai combater a violência contra os idosos?

Coluna de Jussara Camara

Se não for você, quem vai combater a violência contra os idosos?

Se não for você, quem vai combater a violência contra os idosos?

por Jussara Câmara

No dia 15 de junho, celebrou-se o Dia Mundial da Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, instituído pela ONU em 2011. No Brasil, o jornalista Romulo Leandro idealizou o Junho Violeta com o objetivo de proteger e preservar os direitos dos idosos, garantindo que possam viver com dignidade e combatendo a violência contra eles. Em Louveira, uma caminhada em alusão à data foi realizada no Parque do Capivari, reunindo cerca de 60 idosos frequentadores do Centro de Convivência do Idoso (CCI), acompanhados por seus familiares e apoiadores da causa.

Apesar do Estatuto da Pessoa Idosa, que em seu artigo 4º também menciona que todo atentado aos seus direitos, seja por ação ou por omissão, será punido na forma da lei, e disciplina ser dever de todos prevenir a ameaça ou a violação aos direitos das pessoas com 60 anos ou mais, o desrespeito e a violência ainda são uma realidade.

Ainda em conformidade com o Estatuto: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público” garantir os direitos da Pessoa Idosa, e dialogar sobre outras formas de expressão dessa violência, como, por exemplo: o preconceito em razão da idade (Etarismo/Idadismo), a infantilização (praticada por alguns profissionais no atendimento às pessoas idosas, colocando nomes no diminutivo ou utilizando simbologias como: “vozinha/o”); e, a estigmatização da pessoa idosa, que associa a fase da velhice à decrepitude, morte, doenças.

As pessoas idosas têm se tornado cada vez mais vítimas de violência física, psicológica, financeira/patrimonial, institucional/abandono/negligência e também, violência sexual. Daí, a importância da conscientização social e coletiva sobre esse assunto.

Somente Belo Horizonte registrou, nos cinco primeiros meses de 2025, 9.972 registros envolvendo desde maus-tratos e abandono até exploração sexual e tráfico dessas pessoas. Desse total, apenas 1.127 resultaram em denúncias formalizadas, o que expõe um cenário preocupante de invisibilidade das vítimas. Segundo advogados, 100% das violências são praticadas por familiares, o que impede a notificação, e, consequentemente, a garantia plena dos direitos previstos no Estatuto da Pessoa Idosa.

É no estado de SP, onde há um número elevado de denúncias e violações contra idosos no país, em números absolutos. Entre os principais registros de violência, estão golpes financeiros, como empréstimos consignados feitos sem autorização, uso indevido de cartões por parentes e fraudes via aplicativos e telefone. Muitos desses golpistas capturam imagens e vozes das vítimas para aplicar descontos ou cobranças não autorizadas.

De acordo com orientação de advogados, os idosos, para se protegerem, não devem fornecer dados pessoais por telefone, nem transferir dinheiro por pressão e nunca assinar documentos sem ler e entender. Eles devem sempre desconfiar de situações consideradas urgentes, consultar familiares ou pessoas de confiança e nunca tomar decisões no impulso ou pressionados por alguém. Devem, inclusive, conversar com pessoas próximas, como vizinhos, amigos, familiares ou até mesmo integrantes de comunidades religiosas em quem confiem.

No caso das pessoas de fora que observem ou desconfiem de alguma situação, como controlar o dinheiro do idoso(a) sem permissão, usar seus pertences sem consentimento, isolá-lo(a) de amigos e familiares ou tratá-lo(a) com desrespeito ou de maneira suspeita, indicando que a pessoa está em risco, podem denunciar, de forma anônima, pelo Disque 100 ou pelo telefone 190 da Polícia Militar, ou então, diretamente nas delegacias de polícia.

Temos que ajudar os idosos que já passaram por duas guerras mundiais, por uma pandemia recente e que ainda enfrentam outros conflitos, desta vez podendo ser em casa.

Sabendo que a população brasileira envelhece num processo cada vez mais crescente e irreversível, e que a maior parte é formada por mulheres, e são elas, as mulheres idosas, a maioria entre as vítimas dos casos de violência, negligência, estigmatização e estereotipação da velhice, não se pode aceitar fatos de violência contra a pessoa idosa, em pleno século XXI. E sim, temos que denunciar.

Até pelo fato de que, se um dia, algum ato de violência acontecer conosco, gostaríamos de poder contar com alguém para nos ajudar.

O conteúdo deste post, incluindo texto, imagens ou qualquer outro tipo de mídia, é de responsabilidade exclusiva do autor e não reflete necessariamente a opinião deste site.

Gostou? Compartilhe!